Com os dados negativos da Bolsa de Valores nos últimos três anos, os investidores de previdência, que, no Brasil, já têm perfil bastante conservador, estão ainda mais cautelosos com as aplicações de risco, mostram dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No acumulado de 12 meses, até abril deste ano, os planos com parcela de investimentos em renda variável estão com uma rentabilidade negativa de 6,09%. Também foi negativa a captação líquida desses fundos em cinco dos últimos 12 meses, num cenário de volatilidade e incertezas quanto à melhor estratégia para se maximizar os ganhos com aplicações.
Especialistas defendem, no entanto, que, com as mudanças macroeconômicas recentes, como a manutenção da taxa Selic (hoje em 7,5%) em patamar considerado reduzido se comparado ao histórico do país, é preciso correr mais riscos para turbinar os ganhos com a previdência, o que põe o investidor num dilema:
— É difícil convencer o investidor de que ele tem de apostar no variável agora. Mas não dá para olhar pelo retrovisor, é perigoso pensar o investimento futuro com base na rentabilidade passada. Ainda há muitas nuvens no cenário, mas oportunidades também — defende Luiz Sorge, diretor da Anbima.
Para ele, o investidor será obrigado a diversificar suas apostas, assim como ocorreu em países mais desenvolvidos, em que mais de 50% dos planos de previdência já têm parcela de investimentos em ações. Segundo o diretor, ainda não há uma fuga de investidores na previdência privada com parcela de renda variável, mas uma volatilidade grande nos investimentos desse produto específico: a captação líquida dele correspondeu a 2,8% do total do mercado (R$ 34,87 bilhões) em 2012, participação bem próxima do que ocorre no estoque do setor.
— Essa volatilidade é a resposta do investidor aos movimentos do mercado. Vínhamos num Brasil de visão de mais curto prazo. O que pensamos que vai começar a ocorrer é um alongamento da análise do investidor. Hoje, a fotografia é que o investidor está volátil quanto às perspectivas em ações e investindo pouco nelas. A tendência é que esse cenário mude.
Em abril, o patrimônio líquido acumulado dos fundos de previdência de renda fixa foi de R$ 288,800 bilhões; e dos com parcela em renda variável, R$ 7,586 bilhões.
O BuscaPrev, portal de comparação de planos de previdência privada, já observa uma queda de mais de 30% na procura por investimentos em renda variável nos últimos 12 meses, informou Keyton Pedreira, diretor-executivo do portal. Para ele, devem abraçar os riscos maiores em troca da maior rentabilidade apenas as pessoas que ainda estão longe de se aposentar, sob pena de terem de lidar com prejuízo.
Para o presidente da FenaPrevi, Osvaldo do Nascimento, o apetite pela renda variável também caiu, e hoje a estratégia do investidor para ganhar rentabilidade é alongar carteiras, buscando produtos como as Notas do Tesouro Nacional (NTN-B) ou produtos multimercados.
— Tanto em PGBL (Plano Gerador de Benefícios Livres) quanto em VGBL (Vida Gerador de Benefícios Livres), os fundos que mais cresceram foram aqueles baseados em índices de preços, com prêmios de 3,5% a 4% acima da inflação — afirma. — O perverso cenário de inflação alta impede o planejamento de longo prazo.
Também para o gerente de produtos de previdência da Icatu Seguros, Felipe Bottino, o brasileiro percebeu que a renda fixa tradicional não estava dando o retorno que se esperava e partiu para títulos públicos com prazos mais longos.
— Quase dobramos a captação de previdência no ano passado, mas a Bolsa ficou estável — afirmou.
Segundo a FenaPrevi, o mercado de previdência complementar deve fechar 2013 com R$ 400 bilhões. No ano passado, somou R$ 330 bilhões em reservas.
Fonte: O Globo